sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Depoimentos de adolescentes/Riscos para a criança.


Nascem por dia no Brasil, frutos de uma gestação precoce, cerca de 23 bebês, filhos de mães pouco mais que meninas. Quase 9 mil partos entre adolescentes foram registrados em 2011. Uma juventude inteiramente perdida.

Na última sexta-feira (09/03), às 8h da manhã, M., uma adolescente de 17 anos, chega à Unidade de Saúde de Boa Vista, na Serra, município da Grande Vitória - ES. Ela veio trazer a filha de 1 mês e 6 dias para uma consulta de rotina com a pediatra.

A garota engravidou do namorado, de 19 anos, e teve que abandonar os estudos. Deixou de lado a boneca e os sonhos para cuidar da filha. Se pudesse voltar atrás, M. pensaria duas vezes.

- Eu tinha o sonho de ser médica. Tive que deixar isso de lado por causa da minha neném. Não me arrependo do que fiz, mas descobri que gravidez não é brincadeira, é coisa séria e deve ser encarada assim. Hoje estou madura para pensar dessa forma. Quando fiquei grávida, não tinha ideia - lamenta.

Na mesma sala de espera da unidade de saúde, C., outra menina mãe, conta sua história.

- Eu tenho 17 anos. Tenho uma bebê de um ano e três meses e estou grávida da minha segunda filha.

Ela explica que começou a namorar cedo, escondido dos pais.

- Eles não queriam que eu namorasse, por isso decidi arrumar um filho. Agora eles não podem falar mais nada. Vivo com meu namorado. Minha família me deixou de lado - diz a menina, que afirma não estar arrependida do que fez, já que a filha é a alegria de sua vida.

A médica pediatra Sylvia Bahiense tenta explicar estes comportamentos inconsequentes e rebeldes.

- Essas meninas acham que elas nunca vão ficar grávidas, não vão pegar uma doença sexualmente transmissível. Por isso, se entregam - afirma.

Ela trabalha há cerca de 10 anos com adolescentes grávidas e conta que as meninas estão começando a vida sexual cada vez mais cedo.

- Já conheci crianças com 10, 11 anos grávidas. São crianças carregando outras crianças - explica.

A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo - Sesa registrou, em 2011, quase 9 mil partos entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. A cada dia nascem, pelo menos, 23 bebês de gestação precoce.

São muitos os problemas de saúde que podem afetar a jovem grávida. Abaixo dos 18 anos, dobra o risco de anemia, o que, inclusive, traz mais complicações para o parto, diz Marco Aurélio Galleta. Já para o bebê, aumenta a possibilidade de ele vir ao mundo prematuro ou malnutrido. O corpo da adolescente, ainda em desenvolvimento, compete com o do feto, que também está crescendo, explica o ginecologista. Sem contar que ela é mais suscetível à cesariana, a possíveis infecções e à depressão pós-parto. Também dobra o risco de pré-eclâmpsia, doença caracterizada por hipertensão e inchaço, e multiplica-se por nove o da eclâmpsia propriamente dita, uma evolução da encrenca, capaz de levar a convulsões, ao coma e até mesmo à morte da jovem mãe.

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